[ad_1]
Ela conquistou a todos desde o momento em que foi resgatada. Com as fragilidades de um filhote órfão que foi vítima de ataque ou acidente, a onça-parda (Puma concolor) que recebeu o nome de Nala foi recebida no Parque Ecológico da Cidade da Criança “Agripino Lima”, em Presidente Prudente (SP). Em um recinto no Hospital Veterinário do espaço, o felino continua sob observação e seus tratadores lutam para sua permanência na cidade. Uma reunião prevista para a tarde desta terça-feira (6) deve debater sua permanência no município.
Atualmente, com aproximadamente nove meses de vida, Nala aguarda um espaço apropriado para morar, já que sequelas decorrentes de fratura óssea a impediram de voltar à natureza. Um recinto para grande felino está avaliado em cerca de R$ 100 mil, verba que profissionais da Cidade da Criança estão em busca para que a onça-parda permaneça em Presidente Prudente.
Responsável técnica do Zoológico do parque ecológico e também médica veterinária do local, Érica Silva Pellosi lembrou que Nala chegou bebê ao espaço, com aproximadamente um mês de vida, com uma fratura na patinha.
Onça-parda Nala foi resgatada ainda bebê com vária lesões — Foto: Stephanie Fonseca/g1
“Ela foi resgatada em Junqueirópolis [SP], tratada numa clínica lá, nesse tratamento emergencial ela foi operada por lá, quando ela chegou pra gente já estava operada”, recordou ao g1.
Ainda filhote, Nala requeria um cuidado muito grande, incluindo a alimentação a cada duas ou três horas com mamadeira. “Acaba que esse animal se torna mais dependente do ser humano, tem um contato maior com o ser humano, por conta dessa ligação que ele teve desde filhote”, comentou a veterinária.
“Além da fratura, [Nala] teve alguns problemas neurológicos durante a vida, não sabemos ao certo se foram decorrentes do acidente, porque ninguém sabe o que aconteceu com ela, mas ela apresentava quadros convulsivos constantes. Isso a gente acabou conseguindo controlar com medicação”, contou ao g1 a médica veterinária.
Essa medicação foi ministrada durante um tempo. A oncinha já foi desmamada dos remédios, mas vive sob observação, porque ainda não se sabe se ela pode voltar a desenvolver as convulsões. “Já faz dois meses que ela está sem medicação e ela está bem. Nesses dois meses, está tudo ok com ela”, afirmou Érica.
Enquanto a onça-parda permanece no hospital sob observação e avaliação, a equipe técnica busca verbas para construir um recinto adequado para ela morar e permanecer em Presidente Prudente.
“Hoje, no parque, a gente não tem um recinto grande o suficiente e seguro o suficiente para um grande felino. Então, a gente quer fazer realmente um recinto modelo, onde ela vai poder ter uma vida bacana, vai poder ter espaço para correr, árvore para subir, ela vai ter as condições que ela teria na natureza de expressar esses comportamentos naturais da espécie”, enfatizou a médica veterinária ao g1.
Atualmente, Nala está num recinto um pouco mais isolado, o que faz bem ao animal, que pode desenvolver os instintos naturais da espécie sem sofrer o estresse da humanização. “Mas, mesmo assim, ela ainda tem alguns traços de dependência”, comentou Érica.
Onça-parda Nala segue sob cuidados no Hospital Veterinário do Parque Ecológico da Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca
A médica veterinária detalhou ao g1 que um recinto para grande felino precisa ser bem seguro, devido ao risco que o animal representa, tanto pro animal quanto pro tratador.
“O projeto do recinto da Nala conta com uma área em torno de 475 metros quadrados, é bem grande, tem que ser telado de cima a baixo para que não haja fuga desse animal. A gente escolheu uma área plana, principalmente por conta dessa deficiência dela, pra facilitar um pouco. Essa área conta também com bastante árvores, porque a onça-parda escala bastante, gosta de viver em árvores, então vai ter árvore dentro desse recinto, e a gente faz algumas adaptações também com madeira, alguns tipos de enriquecimento pra que ela consiga demonstrar esses instintos naturais da espécie”, descreveu Érica ao g1.
A veterinária também contou que o recinto deve possuir uma área chamada de “área de cambeamento”. “É uma área que a gente precisa pra manejar ela, então ela tem que ser presa nesse cambeamento pro tratador entrar pra limpar o recinto, pra ser feita a manutenção do recinto; ele conta também com uma área em anexa, que seria uma área de enfermaria, pra que, se algum dia ela precisar passar por um tratamento, ela tenha essa opção”, acrescentou.
O projeto é grande o suficiente para abrigar outro animal, se futuramente aparecer outra onça ou se a equipe do parque tiver interesse em ter outra onça junto com a Nala, embora a onça-parda tenha um comportamento mais solitário.
O recinto ficou avaliado numa média de R$ 100 mil. O valor possibilita construir um espaço de acordo com o que Nala precisa.
Para tanto, os profissionais da Cidade da Criança estão em busca de parcerias. Entre elas, estão a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de Presidente Prudente (Codepp).
Onça-parda recebeu tratamento em Presidente Prudente desde filhote
Muita gente se comove com a história dos animais atendidos no Hospital Veterinário da Cidade da Criança.
“Sempre são histórias muito trágicas, e tem uma comoção especial pela Nala, acho que pelo histórico dela, por ser uma onça, por ter chegado tão pequenininha, órfã, por já ter sofrido tanto na vida. Ela é um animal agora de aproximadamente nove meses e já passou por muita coisa. Então, a expectativa é bem alta de que a gente consiga”, contou Érica.
Além da comoção e do carinho por Nala, sua permanência é almejada para evitar o sofrimento de uma uma mudança.
“O animal está acostumado com aquelas pessoas que o tratam, e o estresse do transporte pode prejudicar esse animal também, e também é difícil a gente ter um lugar adequado pra mandar esse animal”, disse a médica veterinária.
“A gente tem uma área aqui no parque que, inclusive, a gente já tem um projeto nessa mesma área de construir outros recintos, e estamos também em busca de verba pra essa construção. O ponto primordial hoje é o recinto da Nala, é realmente o mais emergencial, mas a gente tem a intenção de levar outros animais pra esse espaço”, enfatizou.
A equipe técnica do parque acredita que, após o recebimento das verbas, a construção não demore tanto.
Outro ponto citado é a busca de apoio junto ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP), que pode direcionar verbas de multas ambientais. “São multas que podem ser revertidas para a mesma causa”, finalizou a veterinária ao g1.
A Prefeitura de Presidente Prudente informou ao g1 que uma reunião prevista para esta terça-feira (6) entre as secretarias municipais de Turismo e de Meio Ambiente, bem como com o Ministério Público do Estado de São Paulo, deve discutir o interesse em comum em construir o recinto para a onça-parda Nala.
Também revelou a Prefeitura que o Fundo Municipal do Meio Ambiente tem um saldo atual de R$ 4 mil oriundos de multas ambientais, como podas drásticas de árvores, por exemplo.
Um conselho auxilia a definir a destinação da verba. “Geralmente é utilizado para questões ambientais do município”, afirmou. Um dos projetos beneficiados foi o Abrigo de Animais.
Onça-parda Nala e a médica veterinária Érica Silva Pellosi, em recinto no Hospital Veterinário da Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1
Arquiteto e presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Presidente Prudente, Diego Ferreira Siquieri relatou que o contato foi feito em uma reunião do Codepp, com a participação do secretário municipal de Turismo, Adolfo Padilha. Neste encontro, lhe foi entregue um documento solicitando apoio junto ao Ministério Público, através da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, e empresas e entidades ligadas ao conselho.
“O conselho já contatou algumas empresas privadas e explicamos o teor da solicitação, e estamos aguardando respostas”, contou Siquieri ao g1.
O presidente ainda explicou que, através de sua estrutura, conforme estipulado nos decretos, o Codepp “conta com a presença de grandes parceiros/empresas, que atuam na cidade, a exemplo das cooperativas de créditos, universidades, veículos de comunicação e representantes da sociedade civil”.
“O conselho não tem autonomia para as deliberações. Toda deliberação dos assuntos tratados do conselho vem do Poder Público. Neste contexto, o Codepp entendo que seja uma ponte entre as partes”, afirmou ao g1.
Siquieri ainda esclareceu que o Codepp é um conselho de caráter consultivo, que visa a apoiar e buscar politicas públicas para o melhoramento do desenvolvimento econômico da cidade de Presidente Prudente e que foi regulamentado através do decreto municipal 28.023/2017.
O conselho é organizado em câmaras técnicas, ligadas a diversas áreas, como construção civil, saúde, agronegócio, turismo e outros setores.
Onça-parda Nala foi resgatada ainda bebê com vária lesões — Foto: Stephanie Fonseca/g1
O promotor de Justiça Jurandir José dos Santos esclareceu que valores angariados por meio de multas ambientais costumam ser destinados a entidades e Organizações Não-governamentais (ONGs) que trabalham com meio ambiente, inclusive, na proteção de animais.
“Na verdade, a multa deve ser direcionada para o Fundo Estadual de Reparação. Prudente tem um Fundo Municipal, outros municípios da região também têm esse fundo municipal. Então, aqui em Prudente, as multas que decorrem de meio ambiente aqui em Prudente, nós temos destinado para esse Fundo Municipal. Sendo um empreendimento público da Prefeitura, a Prefeitura pode usar os recursos desse Fundo Municipal do Meio Ambiente para fazer esse abrigo pra esse animal, não é impossível que faça, não”, acrescentou ao g1 Santos, que responde pela 2ª Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, em Presidente Prudente.
Conforme explicou o promotor, é preciso verificar o que tem de saldo e utilizar para isso, se for uma obra pública. “Não dá para colocar dinheiro público numa obra particular”, destacou. Exceto ONGs cadastradas na Prefeitura, aí pode haver esse direcionamento pela Prefeitura e pelo Ministério Público.
“Nós já fizemos, inclusive, pra ONGs que trabalham no cuidado de animais, cachorros e gatos, que eram apreendidos na cidade”, contou.
Ainda segundo explicou ao g1 o promotor, o projeto a ser beneficiado é escolhido de acordo com a relevância e a necessidade. Também é importante que tenha uma diretoria constituída, estatuto, registro em cartório, reunião periódica, e o cadastro perante o município como entidade de utilidade pública.
“É importante porque você não vai destinar um valor, por menor que seja, pra uma entidade que não tem controle, que não tem fiscalização, de quem você não possa prestar contas ou exigir contas. Então, a gente exige essa regularidade formal e legal das entidades, associações, ONGs para as quais a gente destina esses valores que são aqui auferidos com as multas”, salientou.
É preciso haver um projeto mostrando qual a necessidade do empreendimento e aí as multas podem ser destinadas à iniciativa.
Ao g1, o promotor ainda comentou que o Ministério Público não acumula valores. “Todas as multas que aplicamos nós destinamos ou pro Fundo Municipal, ou pro Fundo Estadual, ou pra essas ONGs”, disse.
Sobre o caso específico de Nala, o promotor de Justiça disse que ainda não teve acesso ao projeto com as indicações de características e valores do espaço que a onça-parda vai ocupar para que seja estudada a destinação. “Preciso que o pessoal, encarregado lá do Parque Ecológico, faça um projeto indicando o local onde vai ser feito esse abrigo pra essa onça e o custo disso pra gente começar a trabalhar, inclusive, com a destinação dessas multas”, destacou.
As destinações de verbas são consideradas “uma compensação” pelo dano que o envolvido causou ao meio ambiente.
Onça-parda Nala segue sob cuidados no Hospital Veterinário do Parque Ecológico da Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca