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Com pacientes de 4 gramas a 2 toneladas, médica veterinária explica como é compreender aqueles que não falam: 'Recompensador'

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Prudentina, Érica se considera “alucinada” por bichos desde criança e sempre visou o caminho profissional que seguiria.

“Eu nunca pensei na minha em fazer outra coisa. Desde que eu era criança eu sempre fui alucinada por bicho e eu sempre falava que eu ia ser médica de animais esquisitos, dos animais diferentes. Então, sempre foi uma paixão, eu nunca nem cogitei fazer outra faculdade, outra profissão, nunca me passou pela cabeça”, afirmou ao g1.

Apesar da diversidade de características, todos os pacientes têm uma coisa em comum, que é não saber falar.

Em 1933, através do Decreto nº 23.133, do então presidente da República Getúlio Vargas, surge a primeira regulamentação da medicina veterinária no Brasil. O decreto representou um grande marco na evolução da profissão no Brasil. Por mais de três décadas, foi ele que estabeleceu as condições e os campos de atuação para o exercício da medicina veterinária. Por esse motivo, a data de publicação do Decreto 23.133, 9 de setembro, foi escolhida para comemorar o Dia do Médico Veterinário no Brasil.

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

O pai de Érica sempre gostou muito de animais e sua família sempre teve cachorro, então, ela e os irmãos tinham contato com cães. A paixão por animais silvestres ela foi adquirindo aos poucos, ao longo da vida.

Apesar do gosto em comum, mais ninguém da família seguiu a medicina veterinária. Um dos irmãos de Érica é químico e o outro, cientista da computação.

“Todo mundo gosta de animal, mas cachorro, gato. Ficar no meio do mato atrás de bicho, só eu mesma”, diz a veterinária aos risos.

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Com o apoio da família, que agora “entrou na dança”, Érica cursou a faculdade de medicina veterinária na Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) e formou-se em 2014. Nos dois anos seguintes, a profissional fez pós-graduação em clínica e cirurgia de animais.

“Na época, eu ainda não tinha engajado muito na área de silvestre. Era muito mais difícil antigamente a gente partir pra essa área, é uma área muito pouco estudada, que hoje vem crescendo muito”, comentou.

Ainda durante a graduação, Érica fez estágios no Parque Ecológico da Cidade da Criança. Há cinco anos, já graduada, ela prestou concurso público e integra a equipe profissional do espaço como responsável técnica pelo Zoológico.

Por vezes, a médica veterinária ainda atua na parte de animais domésticos, área de que gosta bastante.

“Eu faço atendimento volante com animal silvestre em Presidente Prudente, e atendo lá em Estrela do Norte [SP] também. Lá acabo atendendo mais cachorro e gato, porque eu tenho uma ligação com a cidade, meu noivo é de lá, faz 10 anos que estou lá já, e como lá é uma cidade pequena, não tem veterinário, quando precisa eu acabo atendendo pra ajudar as pessoas”, contou ao g1.

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

‘Minha vida é uma loucura!’

Mas a maior parte do tempo é dedicada aos animais silvestres, um trabalho desafiador, segundo Érica.

“A gente trabalhar com animal silvestre é muito desafiador, porque são muitos animais, é tudo muito diferente, é um mundo completamente fora da realidade que a gente vive, que a gente aprende na faculdade, então, requer muita dedicação, muito estudo; tem horas que são bem complicadas, tem animais que são bem difíceis, quase não tem estudos sobre alguns deles, mas é muito recompensador também”, destacou.

Muitos animais recebidos por Érica são os resgatados, seja por apreensão da Polícia Militar Ambiental, atropelamentos, e afins.

“A gente acaba recebendo alguns animais bem ruins, bem debilitados, alguns casos bem graves, e a gente acompanhar esse tratamento, a gente conseguir reverter isso, ver esse animal ficar bem, retornar pra natureza, é uma coisa tão recompensadora que não tem explicação”, salientou ao g1.

Questionada sobre os atendimentos de “animais diferentes”, Érica comentou que acha “tudo diferente”.

Onça-parda Nala e a médica veterinária Érica Silva Pellosi, em recinto no Hospital Veterinário da Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

“Eu falo que minha vida é uma loucura, porque no mesmo dia em que atendo um beija-flor de quatro gramas eu atendo um hipopótamo de duas toneladas, então, tudo é muito diferente!”, destacou.

Entretanto, tem alguns animais que marcam mais. “Que nem o caso da Nala, que chegou muito filhote, com uma deficiência, ela teve alguns problemas neurológicos muito intensos quando ela era filhote, então foi um caso bem preocupante; o Cleiton, o tamanduá-bandeira, enorme, o caso dele também foi surpreendente. Diferentes, mesmo, todos são”, disse.

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Conforme comentou Érica, alguns animais silvestres não possuem estudos sobre suas características e comportamentos, fator que dificulta o tratamento.

“O urutau mesmo, que a gente vê bastante, é um animal que é pouquíssimo estudado, principalmente a parte de alimentação, então, é muito difícil a gente instituir uma alimentação num animal desse. Já recebi uma irara, que também não tem muito estudo sobre a espécie. Tem bastante ave que também não são tão estudadas, são mais diferentes”, detalhou ao g1.

“Acho que pra mim é a realização de um sonho, que eu sempre quis, eu nunca pensei em ser outra coisa na minha vida. É sempre um desafio, é sempre uma luta, mas é sempre muito recompensador”, salientou Érica, emocionada.

Entre as evoluções citadas pela médica veterinária, está o Cleiton, um tamanduá-bandeira.

Cleiton, um tamanduá-bandeira, chegou com fraturas à Cidade da Criança — Foto: Arquivo pessoal/Érica Silva Pellosi

Quando Cleiton foi resgatado ferido e chegou ao Hospital Veterinário, ele apresentava uma fratura no fêmur, de um lado, e no lado contralateral, uma fratura de rádio e ulna. “Então, ele fraturou o braço e a perna de lados opostos”, destacou Érica ao g1.

“Ele é um animal muito grande, então, ele não conseguia se apoiar nas pernas dele. Ele passou por uma cirurgia que foi imensa, foi até um colega meu quem fez, que é ortopedista e se dispôs a ajudar a gente, foram seis horas e meia de cirurgia, foi uma cirurgia gigantesca pra colocação de pinos nesses dois membros”, lembrou.

O tamanduá-bandeira Cleiton precisou colocar pinos para cuidar de fraturas — Foto: Arquivo pessoa/Érica Silva Pellosi

O procedimento pós-operatório do tamanduá também “foi um caos”, conforme recordou Érica. “Ele deitava de lado, machucava o pino, deitava do outro lado e machucava o pino, então, foi um animal que requereu um cuidado muito grande e muito intenso. Eu estava com uma turma de estagiários muito boa que me ajudou muito e a gente ficava 24 horas em cima do Cleiton”, enfatizou.

Além das dificuldades físicas devido às fraturas, a alimentação do animal também foi um desafio, visto que o tamanduá em vida livre come cupins e formigas. “Em cativeiro, a gente não consegue fornecer todos esses cupins que ele comeria na natureza”, contou.

Conforme explicou a veterinária, atualmente, uma papa foi desenvolvida especialmente para a alimentação do tamanduá em cativeiro, porém, é “muito difícil” fazer essa introdução alimentar.

“Eles não entendem que têm de comer aquilo; então, a gente o alimentava por sonda, que tem um risco muito grande. Era cada dia um desespero diferente”, relatou.

Papa desenvolvida para tamanduás foi introduzida na alimentação de Cleiton — Foto: Arquivo pessoal/Érica Silva Pellosi

Durante a trajetória de Cleiton, outros problemas apareceram decorrentes desse estresse que ele sofreu.

“Ele teve problema com parasitose, teve uma diarreia muito intensa, teve alguns problemas gastrointestinais, depois ele teve colite. Então, ele teve outros problemas além da fratura”.

Há cerca de cinco meses, Cleiton segue em tratamento com a equipe do parque ecológico e hoje está “super bem”.

Fraturado, tamanduá-bandeira Cleiton passou por cirurgia e já consegue andar

Fraturado, tamanduá-bandeira Cleiton passou por cirurgia e já consegue andar

“Tirou os pinos, os pinos cicatrizaram muito bem, foi até muito rápido pela espécie, a gente se surpreendeu, porque ele é um animal jovem, não é um animal totalmente adulto, então, a recuperação dele foi um pouco mais rápida, mas foi uma luta muito grande, muitos desafios num animal só”, lembrou ao g1.

Cleiton ainda segue sob análise para constatar se retorna ou não à natureza. Os pinos da cirurgia foram retirados e ele passa por uma fase de adaptação para voltar a ter os movimentos normais.

“Agora a gente entra com uma fase de fisioterapia para ver a adaptação dele como vai ser, mas pode ter a possibilidade, sim, assim como pode não ter também. Vai depender muito da recuperação dele mesmo, porque por mais que ele esteja bem, andando sozinho, ele levanta e não tem a mobilidade necessária pra sobreviver sozinho”, esclareceu.

Atualmente, Cleiton já caminha sozinho e retorno à natureza é avaliado pela equipe técnica — Foto: Arquivo pessoal/Érica Silva Pellosi

Outro desafio trata-se de Nala, a onça-parda que foi resgatada ainda filhote. “O grande felino é sempre um desafio, porque você tratar um grande felino é tudo um pouco diferente, por mais que seja filhote”, falou.

Onça-parda Nala chegou filhote para receber cuidados no Hospital Veterinário, em Presidente Prudente (SP) — Foto: Stephanie Fonseca/g1

“A Nala também apresentou desafios muito grandes pela condição que ela veio. Ela já veio operada, então ela não passou por essa cirurgia aqui, mas ela tinha uma fratura. Não deu muito certo essa cirurgia dela e ela teve uma recuperação um pouco mais lenta, ela ficou com algumas sequelas, então hoje ela tem uma sequela no bracinho que ela operou, mas durante esse tempo ela apresentou também alguns quadros neurológicos, ela convulsionava. A gente passou noites e noites acordado com a Nala internada convulsionando, até a gente conseguir descobrir o que era e reverter esse quadro”, narrou ao g1.

Atualmente, a onça-parda também está bem, mas ficou com algumas sequelas que a impedem, às vezes de pular direito, por exemplo.

“A gente tem de adaptar o recinto inteirinho pra ela. É um felino de grande porte, então é um animal que a gente não consegue ter tanto acesso hoje em dia pra ter um tratamento um pouco mais específico. Então é bem complicado, mas também foi um animal que surpreendeu muito a gente, a evolução dela, como ela cresceu bem, e que hoje ela está super bem”, declarou.

Onça-parda Nala segue sob cuidados de equipe da Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

A veterinária contou que, na profissão, também se trabalha muito com instinto.

“Eu falo que o veterinário, principalmente de silvestre, tem que ter muito instinto, um sexto sentido muito bom, porque é muito difícil a gente cuidar de um ser vivo que não te fala o que está acontecendo, que você tem que adivinhar o que tá acontecendo. A gente recebe muito animal que a gente não tem histórico do que aconteceu com esse animal, como é que eu vou tratar ele, então realmente tem que ter um dom”, contou.

A quem tem vontade de seguir na medicina veterinária, Érica incentivou: “Não desista!”.

A profissional confessou que realmente é uma área cara de estudo e que não é fácil, mas que hoje existem possibilidades.

“A minha faculdade é Fies [Financiamento Estudantil]. Eu pago a minha faculdade até hoje, porque meus pais também não tinham condições de pagar, mas não desista. Se esse é seu sonho, não desista. Vai se difícil, vão ter dias difíceis, vão ter dias que você vai querer desistir de tudo, mas, se for pra ser seu, vai ser, e no final é recompensador você saber que você ajudou aquela vida”, frisou ao g1.

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Érica Silva Pellosi atende animais resgatados que são encaminhados à Cidade da Criança — Foto: Stephanie Fonseca/g1


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Fonte: G1


09/09/2022 – 95 FM Dracena

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